domingo, 25 de maio de 2008

1968: Grandes lições para as mulheres

Cecília Toledo, da revista Marxismo Vivo


Para as mulheres, 1968 foi um ano que não terminou, em todos os sentidos dessa frase célebre. Pelas conquistas, as perdas, as lições que ficaram e estão tão presentes até hoje no dia a dia de milhões de mulheres no mundo inteiro. Quarenta anos depois, nada do que elas conquistaram na Europa e nos EUA nessa época faz parte da realidade da imensa maioria das mulheres do planeta, as trabalhadoras e pobres do mundo colonial e semicolonial. No entanto, isso não reduz a imensa importância e o imenso significado que essas lutas feministas tiveram e ainda têm para o conjunto das mulheres, de todas as classes sociais. Só nos faz perguntar: por que a igualdade de direitos entre homens e mulheres está cada vez mais distante?

Depois da grande onda sufragista, que mobilizou mulheres burguesas e trabalhadoras em praticamente todos os países do mundo no final do século XIX e início do XX, as mulheres voltam a exigir seus direitos. Foi uma linha de continuidade, praticamente sem interrupção. Conquistado o direito de voto, logo ficou evidente que a igualdade perante a lei, por si só, não significava a liberação para as mulheres. Sua emancipação estava longe. Era preciso prosseguir. E assim, no bojo das grandes mobilizações estudantis pela defesa do ensino público, da luta dos negros contra a discriminação, da luta de todos contra a Guerra do Vietnã, eclodem importantes mobilizações feministas na Europa e nos Estados Unidos exigindo liberdade sexual, aborto livre e gratuito, creches, direito ao divórcio e igualdade de acesso ao trabalho é à educação. Ainda ecoava forte as idéias de Simone de Beuvoir, cuja obra O Segundo Sexo saíra em 1949 mostrando mais uma vez (Bebel e Engels, principalmente, já haviam demonstrado isso cabalmente) que não existe qualquer sustentação biológica para a idéia da "inferioridade feminina"; o problema está nas relações de produção, já que "não existe uma essência feminina", e portanto, "não se nasce mulher, mas se faz mulher".

Essa postura da irmandade parece muito coerente, no entanto, ela ignora um fato fundamental, que precede qualquer política a ser traçada, seja para as mulheres, para os negros, para qualquer setor social: a divisão da sociedade em classes. As mulheres são seres sociais que pertencem a determinada classe, umas são burguesas, outras são trabalhadoras, e por isso têm interesses distintos umas das outras.

O problema central das mulheres, então, não é a desigualdade de gênero (algo real e muito importante, como o quê todas temos sim de lutar!), mas sim a desigualdade de classe, que gera discriminações muito mais fundamentais, como acesso ao trabalho, ao salário, a melhores condições de vida. Até que não acabemos com o capitalismo e o imperialismo, essas questões são as que determinam a vida de todas as mulheres. Como criar seus filhos, como alimentar a família, como arrumar um emprego decente e ter uma vida digna? Para a mulher burguesa, isso não é problema, já está resolvido de antemão. Desde que nasce, uma mulher burguesa tem tudo o precisa para viver, a mulher trabalhadora, ao contrário. Tem de passar a vida inteira lutando para pôr comida na mesa. E isso não é ideologia, é a vida concreta, real, de milhões e milhões de mulheres no mundo inteiro.

Como dizia Marx há 150 anos, a emancipação das mulheres é algo concreto, real, palpável. Emancipação é sinônimo de pleno emprego, salários dignos, saúde, educação, domínio de seu próprio corpo, enfim, coisas concretas, boas condições materiais de vida. Tudo o que o capitalismo imperialista nega às mulheres trabalhadoras e pobres. E cada dia que passa, nega mais um pouco. Fato reconhecido pela própria ONU cujo último relatório sobre a fome mundial constata que 70% dos pobres do mundo são mulheres! O que significa isso senão mais opressão?

A emancipação definitiva das mulheres só poderá ser conquistada pela classe trabalhadora, homens e mulheres, enfrentando juntos a exploração capitalista, que mantém e multiplica todas as opressões. E para isso é preciso haver espaço para as mulheres em todos os organismos da classe, sobretudo nos sindicatos. A organização política das mulheres também é fundamental para elevar seu nível de consciência. Esse é o maior passo que uma mulher pode dar em direção à sua emancipação, e essa é a maior lição que nos deixa o movimento feminista de 1968.